🎬 Quanto vale o escrito?
crise dos roteiristas brazucas | fernanda mãe torres | clint humilhado| semana 15 a 21/11
📌Destaque da semana
Trabalhe com o que você ama e não ame mais nada
Senta que lá vem a história: Esta matéria de abertura será longa, mas com informações relevantes. Prometemos.
Dizem por aí que quanto mais empresa de um nicho tiver, melhores oportunidades de trabalho surgirão… Mas a realidade se mostrou o contrário no caso de roteiristas brazucas, quando serviços de streaming lançaram suas operações no Brasil.
O contexto da coisa: Semana passada o Metrópoles publicou uma matéria com denúncias de alguns desses profissionais. Elas se ligam a má condições de trabalho para as plataformas Globoplay, Amazon, Netflix, HBO/Max, Disney e Paramount.
As empresas inclusive viraram alvo de investigação do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ). A medida, porém, avançou só dois anos depois de a Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra) solicitar uma mediação da procuradoria nas relações entre as contratantes e os contratados.
Os roteiristas apontam exigências absurdas: remunerações ruins, pagamentos em dias incertos e desrespeito à propriedade intelectual. E a gente achando que a pejotização já seria o fundo do poço para o trabalhador…
Ainda segundo eles, as corporações têm a ousadia de exigir cláusulas fora do script como exclusividade profissional, mas sem pagamento justo — afinal a pessoa deixa de ganhar mais dinheiro com outros players.
fic. de olho 👀: O B.O. tem relação, em partes, com a terceirização da contratação de roteiristas para os streamings. Ou seja, as produtoras locais são prestadoras de serviços que, por sua vez, fecham acordo com esses trabalhadores. Daí, inicia-se um processo de ping-pong: plataformas jogam a responsabilidade nas produtoras e vice-versa.
Afinal, vale a pena ser roteirista no Brasil?
Existem exemplos de sucesso e glamour no mercado, claro. De pessoas que ficaram ricas e bem-sucedidas, mas a real é que elas são a exceção da exceção.
Um levantamento da Abra mostra que 4 em 10 roteiristas não tiveram renda com esse trampo ou ganharam menos de 1 salário-mínimo por mês ao longo deste ano. Tais condições levam essa galera a se dividir em outras funções de audiovisual; não porque curtem, mas porque precisam ($).
Nessa conversa toda, é importante contextualizar a Lei n. 12.485 (aka “Lei da TV Paga” ou “Lei da TV a Cabo”), sancionada em 2011 pela então presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A norma regulamentou a atuação de serviços de TV por assinatura no país.
Um de seus destaques foi o estabelecimento da transmissão da cota mínima de 3h30 minutos/semana de conteúdo nacional exclusivo em horário nobre nos canais gringos. A metade desse total passou ainda a ser feita por produtoras independentes.
Outra obrigação da lei é o pagamento da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) pelos canais estrangeiros. Seu intuito é incentivar nossa indústria.
Mas qual o impacto da Lei da TV Paga no Brasil? Um artigo acadêmico de 2015, escrito por Denise Maria Moura da Silva Lopes, revela que:
Em 2010 os conteúdos “Made in Brazil” representavam 1,5% do total das horas programadas em canais monitorados pela Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Em 2011, o total caiu para 0,9%
Em 2012, saltou para 1,8%
Em 2013, chegou a 3,5%.

Não conseguimos acessar os relatórios no site da Ancine (a página estava dando erro) para obter informações antigas e atualizadas. Contudo, a partir dos dados acima, podemos dizer que a Lei da TV Paga trouxe impacto positivo no cenário nacional, apesar de muito tímido.
História de terror
Lopes também cita uma certa dificuldade em se conseguir financiamentos para desenvolvimento de produções nacionais. Além disso, destacou vários pontos falhos na aplicação da Lei n. 12.485 — crítica que encontramos em outros trabalhos acadêmicos assim como em matérias jornalísticas.
Já no começo deste ano, o presidente Lula sancionou uma lei que prorrogou para até 2038 a cota obrigatória desses conteúdos brasileiros na TV paga. O texto teve origem no PL 3.696/2023 do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), foi aprovado pelo Senado e então enviado para análise dos deputados.
Estes incluíram a retirada da cota, mudança que foi rejeitada pelo Senado e encaminhada para sanção presidencial.
Só que a TV por assinatura no Brasil vai de mal a pior: um levantamento do IBGE apontou queda de 27,7% em 2023 desses serviços nos lares brasileiros em comparação a 2022. O alto custo, desinteresse da população e avanço dos streamings estão dentre as razões.
Mas e o streaming? Existem dois projetos de lei em tramitação para regulação dos serviços:
1) PL 2.331/22 - aprovado pelo Senado e em análise pela Câmara dos Deputados;
2) PL 8.889/17 - disponível para votação no Plenário da Câmara e engloba a cobrança do Condecine.
Alguns especialistas do mercado acreditam — como mencionado em uma matéria da Câmara Legislativa — que o PL 8.889/17, por exemplo, precisa ser mais abrangente para incluir também o YouTube, que não é lá favorável à possível norma.
De volta ao assunto principal desta edição… Não seria interessante englobar a forma com que contratos são celebrados entre corporações de streaming, produtoras e profissionais?
Lá nos EUA, rolou forte sindicalização, como vimos no caso da greve de 2023, que ajudou a barrar abusos e definir regras; aqui esse parece ser um assunto cada vez mais distante do interesse dos trabalhadores.
Talvez a exigência de confidencialidade nos contratos para produção de roteiros, por exemplo, tenha impedido grandes mobilizações em relação à regulação e condições de trabalho…
O início de um sonho / deu tudo errado
A tendência parece não ser de melhoria. Uma extensa matéria de 2023 da Folha de S. Paulo reforça o perrengue já na manchete:
O texto mostra como a Globo, antes vista como emprego dos sonhos pela turma do audiovisual, parou de renovar contratos e demitiu autores nos últimos anos. A onda agora é contratar por demanda/projeto e, por consequência, gerar um efeito de insegurança no setor.
A empresa, por sua vez, diz estar em busca de novos talentos e mais diversidade (uhum…).
No desgoverno Bolsonaro, os financiamentos ficaram quase parados, daí os serviços de streaming viraram a única fonte de renda para os profissionais do mercado. Com muita mão de obra de sobra em relação à demanda, as remunerações e condições de trabalho pioraram.
O problema rebateu não só em roteiristas como também autores, produtores e diretores.
Fora que os direitos de cessão ficaram 100% com as empresas de streaming.
Explicamos: Imagine que você tenha feita um p*ta roteiro para uma plataforma. Daí ela decide ficar com a ideia e até a lógica do seu trampo, mas exclui alguns blocos de texto. No fim, o conteúdo vai ao ar com autoria/desenvolvimento de outras pessoas.
💸O plot twist? Você fica sem os créditos e, de quebra, sem receber qualquer grana. Triste e é verdade.
No caso da Globo, novelas como os remakes de Renascer e Pantanal conseguiram entreter o povo do sofá até um certo ponto. Depois ficaram maçantes, com buracos de roteiros ou falta de atualização para o público atual.
As produções ficaram longe de sucessos de audiência como Avenida Brasil, um case muito lembrado. Seria isso reflexo das demissões?
🚂Trem do hype
Os assuntos quentes da semana
MÃE
O filme Ainda Estou Aqui segue sua campanha internacional para o Oscar, e com engajamento orgânico lá em cima. No último domingo (17), o perfil da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas compartilhou no Instagram uma foto de Fernanda Torres no tapete vermelho do Governors Awards.
Até o momento desta edição, a publicação conta com mais de 2,3 milhões de curtidas e mais de 650 mil comentários — dando o recado passivo-agressivo para a Academia: só sairemos daqui com o Oscar nas mãos.
Em entrevista ao UOL, a atriz ainda revelou que passará 25 dias em Los Angeles para promover o filme. A foto acima é o primeiro passo rumo à conquista da estatueta e sinaliza que, pelo menos, a indicação vem aí. Contudo, a lista oficial só sai em janeiro.
Essa jornada de conquistar nomeações ao Oscar de 2025 ainda conta com viagens de Walter Salles em outros circuitos internacionais. Além disso, a Sony lançou um pôster para o título ser considerado em 8 categorias da premiação.
São eles: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Cinematografia, Melhor Edição, Melhor Ator Coadjuvante (para o também excelente Selton Mello) e, claro, Melhor Atriz.
“Não é show friends, é show business”
Essa foi a frase dita pelo CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, ao responder por que Juror #2 está sendo escanteado pelo estúdio.
fic. com raiva 😤: Em entrevista ao The Wall Street Journal, o executivo bateu o martelo e deu a sentença: “não devemos favores a ninguém”.
Há uma onda nas redes sociais de pessoas indignadas com o tratamento dado pela Warner ao novo filme do ícone Clint Eastwood. Situação criticada não só por populares, mas também por especialistas e até famosos, como Guillermo del Toro.

A relação entre Clint e a Warner já dura mais de 50 anos, sendo um caso único em Hollywood. Nunca um diretor se dedicou tanto tempo para um estúdio: são mais de 40 filmes, estrelados, produzidos ou dirigidos por ele.
Como lembrado pelo IndieWire, essa trajetória entregou muitos sucessos — sem qualquer tipo de atraso ou orçamento estourado —, que renderam um punhado de US$10 bilhões.
Por causa desse histórico, não conseguimos entender o motivo de Juror #2 não ser pensado como uma forte aposta para os cinemas — o longa sempre foi concebido como um Original Max.
O filme protagonizado por Nicholas Hoult teve pouca divulgação, além de distribuição reduzida nos cinemas: apenas 35 salas nos EUA e 5 mercados externos — Reino Unido, França, Itália, Espanha e Alemanha.
Aliás, a esperança de ele chegar a outros países foi descartada: o lançamento no streaming do Max está previsto para 20 de dezembro.
📡Fora do radar
Temas que você não vê no feed
Isso não pode ser verdade
“O que você verá talvez seja perigoso, ilegal, antiético, fútil, errado, imoral e definitivamente idiota, mas também é verdade... de certa forma”.
É com esse alerta que se inicia Só Acontece na Flórida, nova série de comédia da HBO/Max.
Em edições anteriores da newsletter, compartilhamos nossa expectativa em conferir a bizarra produção experimental de Danny McBride (The Righteous Gemstones).
A premissa é a seguinte: mostrar fatos reais que rolaram na Flórida, que de tão absurdos viraram memes e ganharam destaques em noticiários. Os temas variam desde fetiche com canibalismo, ataques de jacarés, até tramas sombrias envolvendo sereias profissionais.
Para encenar esses eventos, a série traz no elenco Anna Faris, Juliette Lewis, Randall Park, Sam Richardson e outros. As histórias são mescladas entre dramatização e documentário, com depoimentos das personagens que passaram pelas ~situações inusitadas~.
Esse mix contribui para dar mais credibilidade para os fatos narrados, ao permitir que as “vítimas” contem seu lado da história. Isso ajuda a atração não ser rotulada como caricata.
De cá, não duvidamos que a produção possa ter alguns exageros, mas estamos achando tudo fascinante.
Por mais que seja uma comédia, alguns episódios tratam de temas sérios, como o episódio 3 (Sereias). Não queremos dar spoilers, só informamos que o rolê virou até caso de polícia.
Vimos até uma notícia de que o sucesso da série forçou autoridades locais a abrir investigação sobre esse incidente.
🌟Lançamentos da semana🌟
Coisas que merecem a sua atenção
fic. com nossa curadoria:
📺 Guerra Civil, filme dirigido por Alex Garland e estrelado por Wagner Moura, chega amanhã (22) ao catálogo do Max. Na sexta-feira, teremos também a estreia de MasterChef Confeitaria, com episódios semanais.
📺 Alien: Romulus, de Fede Alvarez, já está no Disney+.
📺 Na MUBI, o destaque fica com Estranho Caminho, longa brasileiro dirigido por Guto Parente.
📺 No Prime Video, vale conferir Gato de Botas 2: O Último Pedido.
📺 O Paramount+ adicionou Um Lugar Silencioso: Dia Um.
📺 A Apple TV+ lançou Blitz, filme de Steve McQueen protagonizado por Saoirse Ronan.
Até a próxima semana, galera!
Nos siga no Bluesky 🦋